SE NOSSA MESA FALASSE...
CRÔNICA DE MINHA MÃE, DULCE CONSUELO
Depois de quarenta e três anos de uso em
nossa sala de jantar, nossa velha mesa com seis cadeiras foi aposentada. Chegou
uma linda mesa nova, grande, com 8 lugares.
No último almoço ao redor dessa velha mesa,
um dos meus genros expressou seu sentimento - “se essa mesa falasse...”. E
sugeriu que alguém escrevesse sobre isso.
Nesse momento fiquei a relembrar as histórias
da nossa mesa. Quantas! Seria impossível lembrar-me de todas. Mas algumas são
inesquecíveis, porque até estão registradas por fotografias. Que delícia
revê-las!
A "velha" mesa em um dos momentos especiais... |
Uma das marcas de nossa família são as
refeições. Acho que aprendemos com Jesus que sempre se reunia com pessoas para
comer junto com elas. São momentos preciosos de comunhão, conversas, risadas,
lembranças.
Mas se nossa velha mesa falasse, ela
recordaria os muitos aniversários comemorados ao seu redor – dos filhos, dos
pais, dos netos e dos sobrinhos. Lá sobre a mesa estavam os pratos especiais,
os preferidos do aniversariante, para almoço ou jantar; não faltavam o bolo com
velas, salgadinhos, docinhos... o Brigadeiro não podia faltar para as crianças.
As primeiras festas de aniversário das filhas foi nessa mesa, ainda em casa dos
avós, de onde ela veio junto com eles para a nossa casa. E a cada aniversário
da família, estava a mesa preparada, bonita, farta e rodeada de familiares e
amigos.
Se nossa mesa falasse, ela diria que serviu
refeições para muitas visitas ilustres – missionários, pastores, conferencistas
brasileiros e também estrangeiros.
Se nossa mesa falasse, ela diria que foi peça
importante nas Bodas de Ouro e de Diamante de meus pais e também nas nossas
Bodas de Prata.
Se nossa mesa falasse, ela mostraria fotos de
muitas comidas gostosas, preparadas por nós, as mulheres da família, mas também
por preciosas auxiliares do lar, que nos acompanharam por muitos anos e ainda o
fazem – Rosângela, Marina, Maria Aparecida, que mãos habilidosas!
Se nossa mesa falasse, ela contaria de dois
momentos muito felizes – os noivados de nossas filhas, quando ainda à moda
antiga, os noivos solenemente fizeram o pedido ao pai e diante das famílias
colocaram as alianças; e depois o casamento de nossos filhos, quando as
famílias se conheciam e trocavam idéias quanto ao futuro deles.
Se nossa mesa
falasse, ela falaria de todos os nossos encontros da família maior, com boas
horas de bate-papo e comemoração de datas especiais como aniversários de vida e
de casamento. Ela contaria que quinze dias antes da morte de papai, aos 93
anos, sobre ela foi colocado o bolo de 66 anos de casamento de mamãe e papai. E
ao redor dela, cerca de quarenta membros de nossa grande família.
Se nossa mesa
falasse, ela falaria de suas várias mudanças de casa, sendo a última do Rio de
Janeiro para Curitiba e Quatro Barras. Mas ela permaneceu intata, embora
envelhecida e as cadeiras forradas de novo.
Se nossa mesa
falasse, ela contaria que, ainda no Rio, várias reuniões aconteceram ao seu
redor para estudos bíblicos, planejamento de atividades da igreja em Senador
Camará e até para contagem das ofertas dos dias missionários, quando eram
abertos os envelopes e cofrinhos, separadas e contadas as cédulas e moedas, e
arrumadas para o devido depósito. Eram momentos descontraídos de alegria e
vitórias com os alvos alcançados e ultrapassados. E, no final, sempre um suco,
ou cafezinho acompanhado de alguma guloseima para os líderes ali presentes.
Se nossa mesa
falasse, ela contaria que serviu chás e cafés da tarde para várias amigas,
algumas já na Glória. Que saudades da Neila e da Marlene...
Se nossa mesa
falasse, ela testemunharia que nunca familiares, amigos e visitantes começaram
a refeição, sem antes orarmos, agradecendo ao Senhor o alimento e as mãos que
nele trabalharam, desde o lavrador até a cozinheira, pois dele “vem toda a boa
dádiva”.
Se nossa mesa
falasse, ela diria que até o último dia em nossa casa, ela reuniu para os
almoços de sábado e domingo, os filhos e as netas que moram ao nosso lado. E
foi num desses momentos, que surgiu a sugestão do Ezequias, agora posta em
prática.
Se nossa mesa
falasse, finalmente ela diria que sua história ainda está sendo escrita, hoje
no refeitório da Igreja Batista no Jardim Atuba, onde continuará oferecendo
bons momentos de comunhão aos seus membros, nas refeições e festas, ou ainda
para reunir classes e outros grupos ao seu redor. E por certo ela teria muito
mais a falar, experiências vividas e presenciadas que não caberiam no papel.
Mas os grandes
momentos continuarão em nosso lar, enquanto Deus quiser, agora ao redor da nova
mesa, maior para acomodar mais pessoas, que sempre serão recebidas com amor e
distinção para os momentos de alegria e comunhão que cultivamos em nossa
família.
Concluindo: esta
crônica não é só para registrar um pouco da nossa história, mas também para lembrar
aos que a lerem, que refeições devem ser sempre ao redor da mesa. Sabemos,
lamentando, que em algumas casas nem há mesas, só sofás, poltronas e camas,
onde cada um senta-se tendo na mão o prato de comida que foi servido no fogão,
direto das panelas. Quase sempre a companhia nessa hora é a televisão. Tive uma
auxiliar em minha casa, que não sabia como colocar louças e talheres na mesa,
porque, após trabalhar por vários anos numa mesma casa, nunca arrumara a mesa
para refeições. Essa talvez seja uma das razões para essa família estar
destruída, sem qualquer vínculo de amor..
É claro que dá algum
trabalho, mas vale a pena, pois é a hora da família reunida orar agradecendo,
compartilhar fatos e idéias e fortalecer os laços de amor. E agora,
Que histórias
sua mesa tem para contar?