quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A Dor da Ausência

Na última segunda-feira, participei dos funerais do MM Valdecir Firmino, da PIB de Jacarepaguá. Ali estive para expressar meu carinho pela família, em especial pelo jovem Gabriel, seu único filho, que nos tem abençoado tanto ajudando-nos no piano em nossos cultos.

Valdecir faleceu ainda novo, aos 52 anos, após 4 meses de internação em coma devido a uma grave infecção renal. Durante esse tempo, acompanhamos com oração e carinho a luta da família para vencer o deserto. Tal deserto chegou ao fim com um golpe forte e doloroso demais. Agora é a hora de reunir as forças necessárias para recomeçar e continuar a vida.

O culto fúnebre foi muito emocionante, principalmente pela maneira como Gabriel portou-se fragilizado, mas ao mesmo tempo testemunhando do poder de Deus em meio à dor. O auge foi quando o coro que era regido pelo Valdecir cantou um hino de seu repertório (Ao Nome de Jesus) acompanhado pelo próprio Gabriel ao piano que sucumbiu à emoção máxima nos últimos acordes. Uma cena que nunca sairá da minha memória.

Vivendo intensamente a emoção daquele momento, tentei me colocar nas duas posições possíveis: de pai e de filho. Lembrei-me do belíssimo texto escrito Sostenes Lima intitulado “O Pêndulo da Ausência”. Julgo ser oportuno compartilhá-lo com você face às últimas experiências vividas ao lado do meu querido jovem Gabriel.

“A presença das pessoas que amamos é, de tudo que nos cerca, o que realmente importa. No fim de tudo, nada além das pessoas vale alguma coisa. Só as pessoas resistem ao fim.

Contudo, mesmo sabendo que no fim só nos restarão as pessoas amadas, frequentemente permitimos que a presença delas se torne trivial, banal. Por isso precisamos, com certa regularidade, trazer para o cenário da presença a possibilidade (ou seria realidade?) da ausência. Quando nos esquecemos da dor que a ausência provoca, acabamos fechando os olhos para a presença, tratando-a de forma naturalizada, como se ela nunca fosse deixar de estar aqui.

Não é bom falar de ausências que (ainda) não existem. Acabamos sofrendo por algo que nem sabemos se existirá ou não. Pensar numa ausência futura é se dispor a sentir fome diante de uma mesa repleta. Parece não ser uma atitude sábia.

Mas uma reflexão moderada pode nos mostrar um pouco da sabedoria que se esconde no que ainda não existe.

Talvez o maior ensinamento que podemos tirar da ausência seja a consciência do quanto a presença é fugaz. A ausência nos mostra, com clareza, que toda presença passa. Precisamos ser constantemente acordados para viver a presença enquanto ela ainda está aqui e agora. Logo o dia acabará. E quando a noite chegar, não vai adiantar invocar a luz. Ela já terá ido embora.

Todos sabemos que a presença tem valor, mas nos esquecemos disso com muita facilidade. Parece que só percebemos o valor da presença quando pensamos na ausência ou quando ela, a ausência, chega repentinamente. O amor é mais forte e intenso quando vimos a ausência se tornando cada vez mais próxima. E quando ela chega, o amor fica dilacerado.

Portanto, pensar de forma equilibrada nas ausências que virão pode ser uma forma de nos despertar diariamente para o valor das presenças que estão aqui e agora.

É muito bom ter pai, mãe, filho, irmão etc. conosco. Mas pode ser ainda melhor. Basta pensarmos no dia em que não estarão mais presentes. É certo que toda presença envolve algum tipo de chateação e aborrecimento, mas nada que se compare ao golpe que a ausência desfere no amor.

A presença vale muito mais quando é avaliada pelo custo da ausência. É preciso fazer dela, a ausência, a contraparte da presença, o outro lado do pêndulo.”

Está dito, e bendito!

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