Assista aqui a reportagem antes de ler a postagem.
“Ah, meu filho Absalão! Meu filho, meu filho Absalão!
Quem me dera ter morrido em seu lugar!
Ah, Absalão, meu filho, meu filho!”
(2Sm 18.33)
Medo. Perseguição. Susto. Tiros.
Gritos. Soluços. Gemidos. Dor.
Tragédia. Injustiça. Covardia. Maldade.
Chocante. Apocalíptico. Sem sentido. Vazio.
Incompreensível. Inaceitável. Indescritível. Inexplicável.
Como pais, você e eu, tememos ver-nos no lugar do taxista Paulo Soares. Todas as vezes que seu rosto desfigurado pelo desespero veiculou nas televisões nesta semana, lágrimas de muita dor rolaram em meu rosto – “e se fosse eu?”.
Mais uma vez o Brasil pára para chorar a morte de uma criança. Três meses depois de nos estatelarmos emocionalmente com a morte de Isabela Nardoni, estamos atônitos novamente. Desta vez, com a morte do menino João Roberto que, sabemos, não será a última. Mais um João para as estatísticas. Mais um dado para severizar o estado de desmando e violência que não é privilégio distinto do Rio de Janeiro.
Talvez a tênue diferença do sentimento que nos comove hoje, seja que desta vez o pai chora de verdade. Não são lágrimas fingidas e visivelmente artificiais com as que vimos na ocorrência de abril passado.
Não quero sentir esta dor. É demais para mim. É maior que eu. Mas não sou eu quem define o meu amanhã. Não sei o que será de mim daqui a pouco. Por isso, o medo toma conta de nós.
Davi já sentiu esta dor. Ele também chorou por um filho assassinado.
Não foi, porém, por um filho de três anos. Não foi por um filho inocente morto injustamente. Muito menos, foi por um filho que todas as manhãs pedia insistentemente para que o pai brincasse com ele antes de sair para o batente.
Davi chorou por um filho rebelde, conspirador, insubmisso e reacionário. Davi chorou por um filho que na verdade queria ver o pai morto.
Mesmo assim Davi chorou.
O vazio da morte é o mesmo em qualquer um de nós – ricos, pobres, reis ou taxistas.
Diante da morte, palavras são incapazes de preencher o vazio que fica.
Diante da morte, falta senso de razão para discernir o que está acontecendo.
Diante da morte, sobram especulações teológicas para se tentar justificar os descaminhos do homem.
Diante da morte, o instinto é fugir.
Não vou fugir. Os covardes fazem isto.
Não buscarei respostas. Elas podem não existir.
Ficarei onde estou. Em silêncio. Não é omissão. É submissão!
Creio que valerá a pena esperar. Não pela justiça dos homens. Ela é injusta.
Espero pelo tempo de Deus. Ele é justo. Ele cura. Ele supre. Ele é tudo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário