Num primeiro olhar, a pergunta parece ser impertinente. Afinal, não é esta perspectiva que se tem de um pastor. Ora, ovelha é ovelha e pastor é pastor. Certo? Errado! Pastor também é ovelha.
José Cássio Martins, pastor presbiteriano e psicólogo, afirma que “cada dia se torna mais claro nas denominações em geral que pastor precisa de um pastor; ele precisa ser pastoreado”.
Cresce o número de pastores com problemas espirituais, emocionais e até mesmo físicos, problemas que não ficam somente com eles, mas terminam por atingir a família, a igreja local ou instituição em que trabalham, chegando ao âmbito da denominação.
“O pastor é uma ovelha sem pastor”, afirma Martins. Estranho? Pode parecer. Mas é verdade. O pastor é um ser apenas humano, e não sobre-humano. Assim, ele tem fraquezas e limites. Comete erros, equívocos e confusões. Há falhas e imperfeições, assim como neste breve artigo, inclusive. Muitos pastores não admitem esta realidade em tempo de serem ajudados.
A idealização do pastorado é um caminho curto para a queda e para frustração. Alguém pode dizer: “o pastor está perto de Deus e assim não precisa de nada”. Isto é engano. Conquanto o pastor deva manter em dia a sua vida devocional, a tensão do ofício pode levá-lo a um distanciamento gradual e destruidor.
O pr. Cássio Martins define: “ser pastor é cuidar da pessoa como um todo, de seu consciente e inconsciente, corpo, alma, espírito, o eu interior e exterior, ou como queiram expressar. Isso tem um custo humano, pois o pastor tem de aplicar toda a personalidade, todo o potencial no desempenho das suas funções”.
E eu acrescento que tão desgastante quanto a tarefa em si mesma é a expectativa de querer ver tudo dar certo e, via de regra, quase sempre o sucesso depende da atitude de quem é pastoreado. A cobrança pela perfeição é viciante.
Na Bíblia encontramos muita gente boa esgotada: Moisés, Elias, Jeremias, e o próprio Jesus que suou gotas de sangue diante do seu fim, entre outros. Muitos a ponto de desistirem de tudo.
Martins aponta o ativismo com um perigoso vilão: “o pastor sente que tem de estar ocupado o tempo todo, sendo afastado de uma vida saudável, normal, espiritual”.
Nós pastores estamos tão sujeitos ao empobrecimento da espiritualidade quanto qualquer outro crente. O manuseio constante com a Bíblia pode tornar-se algo mecânico e frio. “A obrigação de preparar sermões e estudos pode estar ocultando o lado devocional. Assim, os problemas se avolumam”, afirma Cássio Martins.
Sim, o pastor precisa de pastor, alguém que lhe fale como Jesus falou. Ele precisa da oração de suas ovelhas, precisa de perdão, precisa de autoridade espiritual. O pastor precisa renovar-se humildemente aos pés da cruz de Cristo. E para alguns, humildade soa como antônimo de pastorado.
Continuo afirmando que nada poderia me trazer maior realização do que ser pastor. É bom amar e ser correspondido, cuidar e ser cuidado, dar e receber. Neste Dia do Pastor renovo o meu voto usando as palavras de Paulo: “Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus.” (Atos 20.24)
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