O terremoto ocorrido no Haiti, o país de extrema pobreza e de maior miséria do hemisfério ocidental, foi uma enorme tragédia, seguida de diversas tragédias decorrentes, entre elas, a morte de Zilda Arns.
Zilda, irmã do ex-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, tinha 73 anos. Médica pediatra e sanitarista, dedicava-se a causas sociais de destacada relevância. Fundou e dirigiu a Pastoral da Criança e, posteriormente, a Pastoral do Idoso. Estava no Haiti desde o domingo anterior ao terremoto para palestras e encontros com representantes de organizações não-governamentais atuantes no país.
Estão confirmadas também as mortes de vários militares brasileiros que participavam de missão das forças de paz enviadas pela ONU ao território haitiano.
Da capital Porto Príncipe restam escombros e ruínas. O Palácio Nacional e os principais edifícios governamentais desabaram. O mesmo aconteceu com a Catedral central. Hotéis, hospitais, residências e, inclusive, a sede da embaixada brasileira, foram seriamente afetados.
A Coordenadora das Pastorais da Criança e do Idoso, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, propagava pelo Brasil e em outros países os objetivos do seu trabalho: diminuir a desnutrição e a mortalidade infantis, ajudar crianças vítimas da violência nos ambientes familiares ou demais contextos comunitários e promover a educação como instrumento de formação do ser humano.
Desde a criação da Pastoral da Criança em 1983, mais de dois milhões de crianças menores de seis anos foram beneficiadas, juntamente com 1500 famílias carentes em 4060 municípios brasileiros, graças ao trabalho de milhares de voluntários de diversos setores da sociedade.
Zilda morreu em combate. Prosseguia na renhida luta contra a pobreza, a miséria, a fome e a exclusão social. Longe de ser apenas uma defensora teórica da responsabilidade do cristão diante das mazelas do mundo, a pediatra e sanitarista transformou em gestos concretos o sentimento de solidariedade preconizado pelo Evangelho.
Para além dos discursos bem elaborados de governantes insensíveis e das encenações empavonadas de políticos que pretendem tão-só angariar votos, Zilda Arns cumpriu à risca o propósito principal da graça que recria o ser humano em Cristo: fazer boas obras (Efésios 2.10).
E em cada criança abandonada, em cada bebê faminto, em cada mãe solteira sem abrigo para criar seus filhos, via a face do próprio Senhor Jesus, como Ele mesmo dissera que aconteceria: “O que vocês fizerem a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 25.40).
No caminho contrário da escumalha política brasileira, que usa mandatos, influências, projetos de lei e acordos financeiros para, no mais das vezes, saciar a cobiça esfaimada dos seus próprios interesses, a Dra. Zilda Arns deixa um notável legado de perfeita combinação entre o amor genuinamente cristão, o sentimento de cidadania responsável e a ação eficaz em favor do próximo.
Esses patéticos, vergonhosos e despudorados componentes das atuais casas legislativas, tanto no Congresso Nacional quanto nos parlamentos estaduais, terão de morrer e ressuscitar milhares de vezes para conseguir fazer, ao menos, dez por cento do que Zilda Arns fez em real benefício da sociedade brasileira.
Surrupiei do Blog do meu amigo Carlos Novaes.
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